Transdisciplinaridade e transformação social

Como vai?
Hoje vamos refletir sobre como a escola pode cumprir, de acordo com sua proposta prática, duas funções extremamente antagônicas.
A escola pode assumir uma função de manutenção do poder dominante, formatando os indivíduos em padrões de comportamento, ou então, assumir a função libertadora dos indivíduos, capacitando-os a viver a liberdade de serem cidadãos que buscam através de seus pensamentos e ações, construir um mundo melhor.

- a supervalorização da razão em detrimento do corpo, das emoções e dos sentidos;
- a fragmentação do conhecimento;
- a hierarquização de disciplinas e de produtividade medida pelos exames e provas;
- a classificação;
- a redução do que é complexo em peças simples, dissociadas entre si e descontextualizadas.
O que a escola realmente ensina, não está expresso nos currículos.
Sofremos, na escola, uma formatação que nos padroniza enquanto seres humanos modernos. A escola é o modo mais eficiente de se formatar e disciplinarizar as pessoas de uma sociedade. Através desta instituição, disciplinarizamos o nosso modo de pensar, o nosso modo de sentir e de agir no mundo. Assim, nossa sociedade torna-se reflexo desse modo de ser fragmentado e disciplinarizado.

Com relação à disciplinarização dos nossos corpos, por exemplo, aprendemos que a posição mais usual do ser humano é a sentada. Se refletirmos bem, poderemos chegar à conclusão que ficamos sentados metade de cada um dos dias de pelo menos 20 anos de nossas vidas, enfileirados em carteiras, na escola.
Esse “hábito” que adquirimos pelo exercício repetitivo de cada dia letivo nas escolas nos torna adultos sedentários ou, no mínimo, passivos. Sentar é a posição da espera, do assistir o tempo passar, da não atividade. Sempre que nos encontramos em um novo ambiente, procuramos logo nos sentar. Agora mesmo, ou em qualquer momento do dia, a maioria das pessoas da sua cidade estará sentada. Esta se tornou a posição básica do ser humano.
A formatação das nossas interações
Um segundo exemplo de disciplinarização que a escola promove nos alunos é a formatação dos modos de sentir e interagir com os demais.
A disciplinarização das nossas relações sociais também é um conteúdo que todos aprendemos muito bem e que se encontra submerso no cotidiano escolar, ocultamente, pois não é expresso no currículo formal. Aprendemos a ser individualistas em vez de sermos individuais. Não aprendemos a construir uma coletividade, a trabalhar de forma cooperativa. Os trabalhos em grupo, na grande maioria das escolas, são na verdade apenas a distribuição de tarefas para a execução de um trabalho onde cada um faz a sua parte.
Ou seja, como não desenvolvemos a habilidade de convivência em grupo, a habilidade de organização e mobilização social, como não aprendemos a argumentar e a interagir coletivamente, como não praticamos a cooperação genuína na escola, acabamos atrofiando essas capacidades que seriam muito úteis para a transformação social.
Não desenvolvemos o ato de dialogar, compartilhar visões, ouvir e argumentar com o outro com a finalidade de construir juntos. O desenvolvimento das habilidades de interação interpessoal é completamente ignorado na escola. Ao contrário, todo o tempo somos incentivados a sermos competitivos.

Procuramos muito mais sermos alguém idealizado do que descobrirmos em nós mesmos quais são as nossas habilidades e capacidades únicas. Quais são nossos talentos? Como desenvolvê-los? Essas perguntas não fazemos na escola. Tampouco são perguntas feitas nas universidades, pelas pessoas que teorizam sobre a educação. São perguntas totalmente esquecidas.
O papel da escola nesse aspecto é importantíssimo, já que seria o ambiente mais propício para desenvolvermos tais habilidades.

Um terceiro exemplo de disciplinarização que acontece no ambiente escolar é a formatação dos modos de pensar. Durante a vida escolar aprendemos que devemos decorar fórmulas e conceitos para passar nos exames. Essa se torna a única função de se estudar e aprender. O significado do aprendizado torna-se vazio em si, sem significado.
Além disso, perdemos a visão do todo, já que os conteúdos são fragmentados em inúmeras disciplinas.
Essa formatação nos deixa sempre subordinados aos que produzem conhecimento sistematizado, ou seja, que reduzem a realidade a fórmulas e conceitos pré-definidos. Aprendemos tudo sobre o mundo real, através de interpretações e simplificações abstratas, previamente sistematizadas. E, no final, acabamos por confundir o que aprendemos através de conceitos com o que é real e verdadeiro. Tomamos o que nos é imposto pelos livros como se esses conteúdos fossem a própria realidade e não apenas uma interpretação pré-digerida dessa realidade.
Então, educador transdisciplinar, como reinventar a escola e favorecer a formação de indivíduos livres para construir um Mundo Melhor?
Continuamos essa reflexão na seção “Atividades Transdisciplinares”, no texto “O compromisso social da escola transdisciplinar”.
Um grande abraço!
Profa. Patricia Limaverde
Referências:
NASCIMENTO, P. L. . Escola VILA, educação transdisciplinar e transformação social. In: II CONGRESO INTERNACIONAL DE INSTITUCIONES EDUCATIVAS: Maestros Transformando desde las Aulas, 2011, Arequipa – Peru. II CONGRESO INTERNACIONAL DE INSTITUCIONES EDUCATIVAS: Maestros Transformando desde las Aulas, 2011.